A Casa dos Artistas em Buxelas
Thyl é uma galeria de arte localizada numa casa história no coração de Bruxelas. Esta permite que artistas e desenhistas exponham os seus trabalhos e acolham os seus clientes e amigos num ambiente autêntico. Estes artistas podem usufruir do espaço em condições semelhantes às que a pequena burguesia industrial do século XIX conheceram.
Sommaire
A galeria situa-se na Rue des Eperonniers, número 14, rua paralela à Grand Place, ligando a Praça St. Jean à Praça Marché aux Herbe.
Esta pequena casa (4x5m, com dois andares) fica a alguns minutos a pé da Estação Central. A quinze minutos pelo trem em direção ao norte situa-se o Aeroporto Internacional Zaventem. A Sul encontra-se a alguns minutos da Gare do Midi, de onde partem os comboios de grande velocidade rumo a Paris, Amesterdão, Colónia e Londres.
A rede de transportes públicos (metro, STIB ou De Lijn) tem paragens nas proximidades do local.
É impossível citar todos os museus e actividades culturais (Ópera, as Belas Artes, a Biblioteca Real, a Cinemateca, teatros, etc), as escolas (o Conservatório Real da Música, a Escola de Belas Artes, etc.), o centro de convenções, restaurantes e cinemas que se situam próximos, de tal forma são numerosos.
O mapa Ferraris, datado de 1777, permite localizar a Rue des Eperonniers na perfeição (ver seção 76). Numa das extremidades da rua encontrava-se a primeira escola médica da cidade, inaugurada por Joseph II em 1788 no Hospital Saint Jean. A sua actividade manteve-se até 1848, data da sua demolição.
O seu desaparecimento deste local é acompanhado pela realização do projecto das Galerias Bortier, que ainda hoje abriga livrarias e galerias de arte, e das Galerias Saint Hubert, conhecida pelas suas lojas luxuosas.
Entre 1790 e 1860, a exploração do carvão e actividade siderúrgica permitem à Bélgica ser, depois do Reino Unido, a segunda potência industrial do mundo.
No ano de 1815 chegam à cidade os camponeses de Braine e Waterloo, arruinados pela chacina colectiva que ocorrera nos seus campos.
Incompatibilidades religiosas separam as antigas Províncias Unidas do Sul e o reino dos Países Baixos, dando origem à Bélgica em 1830.
A casa do número 14 foi construída em 1820. Inicialmente foi um pequeno jardim, depois um prédio do qual resta apenas a fachada. Uma porta e uma sucessão de janelas são ainda visíveis. Aberturas que ligam esta casa às casas vizinhas foram construídas nas suas paredes laterais.
Os materiais de construção, os tijolos “espanhóis”, muito longos e de outros formatos, todos diferentes e as vigas, onde são visíveis as marcas de serras e machadadas, sendo vestígios prováveis de uma recuperação.
A primeira actividade registada é a da fábrica de cachimbos de espuma.
Podemos reparar que os nossos antepassados não foram tão bem alimentados como nós dado a sua baixa estatura, isto é notório quando que batemos com a cabeça ao escalar a escadaria construída em 1860. A parte dianteira e as abóbadas da cave datam no mesmo ano.
Muito próxima ficava a Maison du Peuple, projetada por Horta para o Partido dos Trabalhadores Belga, inaugurada a 1899 (o PTB foi formado em abril de 1885, na Maison du Cygne situada na Grande Place). A sua destruição, em 1965, continua a ser lamentada por muitos.
Em 1896, Dr. Ovide Decroly trabalhava no hospital privado na Rue des Eperonniers (nº 42-44).
Em 1901 é no número 51 da mesma rua que Alexandra David Neel faz a impressão do seu “Pour la Vie”.
Existem, mantidos nos registos dos Arquivos da Cidade, cartões postais que remetem: ao fabrico de jóias nos números 2 e 20, registos e equipamento de escritório no 3, facas no 4 (esta torna-se depois numa loja de armamento de luxo); uma sapataria no 7, guarda-chuvas e bengalas no 10 e no 20, flores artificiais no 32, bronzes para edifícios do 65 ao 67 e 5. Houve um Bousselier em 16 (que também fabricou flores artificiais na “Perpétua Primavera”), um cabeleireiro no 18, um comerciante de tecidos e gravatas em 19, uma tipografia no 25, o hotel “Du Grand Café” do 24 ao 26, um carpinteiro no 29 e lojas de mobiliário no 28 e 40.
Na outra extremidade da rua, em 1910, ocorreu a Exposição Universal, tendo sido assim deslocada do bairro St Roch, local que a albergava desde a Idade Média, para o Monte das Artes. Este estava repleto de ateliers de artistas, um caminho que muitos recordam com delícia. Sob o pretexto de uma outra exposição eles terão sido substituídos, em 1957, por edifícios enormes.
Em 1952 começaram os trabalhos que permitiram a junção das estações ferroviárias do Midi e no Nort pela estação Central. Quando finalmente terminaram, deixaram no centro uma cicatriz pálida. Ao mesmo tempo, os caminhos que levavam ao Bois de la Cambre, sendo elas a Avenida Louise, Longchamps e Loi, são transformados em autoestradas urbanas.
A Bélgica inicia, em 1944, a Benelux, que vai dar origem, em 1951, à Comunidade Económica do Carvão e do Aço. Abriga também a União Europeia a partir de 1965. A sede da NATO sedia-se também aqui, desde o ano de 1966.
Nos anos sessenta, as clivagens políticas multiplicaram as administrações em Bruxelas.
Um fabricante de chapéus ocupou o número 14 até 1976.
Havia apenas uma fonte de água, na cave, Lá se encontrava também uma pilha de carvão. Em cada andar havia uma lareira. Decorre então a primeira renovação para clarear o teto e as paredes, enegrecidos pelo decorrer das décadas. A sua estrutura foi renovada.
De 1982 a 1998 recebeu a livraria “Le Bateau Livre”, sendo a sua extensão, o “Cinérivage” (Françoise de Paepe) uma referência para muitos cinéfilos.
Antes disso, em 1975, as edições de “La Jeune Parque” de Jacques Antoine, que decorriam no número 57, cessam.
O teatro situado no número 5, com a morte de André Roche em 1989, da “L’lle Saint Louis” chega ao fim.
A livrarira “La Proue” de Henri Mercier situada no número 6 fecha em 1992.
No número 14 uma nova renovação se impõe, desta feita a fachada e a chaminé, bem como o telhado, que ameaçava ruir.
Nos anos seguintes, inquilinos sem escrúpulos devastam esta casa, além de uma lousa de muitos anos.
Uma casa, como um abrigo, é uma ferramenta. Esta casa em particular oferece uma porta aberta numa cidade que recebe visitantes de todo o mundo. É um cadinho onde as ideias são catalisadas pelos encontros.
O acesso de carro ao centro da cidade não é o mais fácil. Os condutores perdem muitas vezes várias horas no trajeto. O estacionamento é caro. A zonas pedonais estão a aumentar progressivamente. Estas permitem que se passeie pela cidade e que quem nela caminha olhe à sua volta, converse, isto sem ser incomodado pelas explosões malcheirosas dos automóveis. A Rue des Eperonniers é o seu limite atual.
Organizar o possível é deixar a esperança para ir além. A imaginação surge da necessidade. Sobreviver frequentemente depende de encontrar uma ideia. Fora de nada levar adiante um projeto, um serviço o um objeto eram o trabalho daqueles criadores que nos precederam e continua a ser a essência dos artesãos que somos. Os artistas compartilham olhares e impulsos em direção aos sonhos e a esperanças.
Desta conjunção surge a proposta desta casa como um lugar de boas-vindas e de liberdade.
O nome
Thyl é o primeiro nome do herói legendário imaginado por Charles de Coster. Seu nome, Uylespiengel, significa em Flamengo “coruja e espelho” que, figurativamente evoca o Γνῶθι σεαυτόν do templo de Delgos.
Sua estória fala de transgressão, rebelião contra o poder que parece inevitável. Em última análise, são estas ideias preconcebidas ao longo dos nossos caminhos, que nos aderem na pele e as quais, como máscaras, nos impedem de ver a vida e a sua beleza.